A Palavra Livre de Mortágua

Domingo, 14 de Setembro de 2008
Verdes são os Campos...

Texto publicado em 12 de Setembro de 2008 no jornal Defesa da Beira

 


 

Muito me apraz ver na agenda da Câmara Municipal publicado um texto sobre a importância das nossas ribeiras. Assunto sobre o qual já tive o prazer de escrever mais do que uma vez, tendo até uma delas provocado reacções menos cordiais. Mas adiante…
As ribeiras do Concelho de Mortágua serão talvez o que de mais único e valioso teremos. A rede fluvial é vasta cobrindo todas as nossas 10 freguesias. A quase totalidade das águas destes vasos acaba por desaguar no Rio Mondego, em Almaça, havendo só uma pequena porção que desagua no Rio Criz e no Dão, sendo assim quase todo o Concelho parte integrante da Bacia Hidrográfica do Mondego. A esta “regra” têm que se referir as ribeiras do Meligioso e de Trezoi que correm para Noroeste e integram a Bacia Hidrográfica do Vouga.
Se o aproveitamento mais imediato que, como referi já noutro artigo, se pode fazer desta rede fluvial é a pesca, outro podemos ainda fazer numa perspectiva lúdica não desportiva. Detentor da maior várzea do Distrito de Viseu, o Concelho de Mortágua é ainda rico em extensões planas ao longo deste ou daquele ribeiro. Nalgumas dessas zonas podemos ainda encontrar a vegetação original criando assim ambientes bucólicos e de grande beleza. Num enquadramento de uma procura cada vez maior de um turismo de qualidade e de contacto com a natureza esta é uma mais-valia que não se pode desperdiçar.
Cirandando de um lado para o outro nesta nossa Europa verificamos serem inúmeras as auto caravanas em transito conduzidas pelos turistas. Em Portugal a quantidade desses veículos quer com origem estrangeira quer com origem nacional é já digno de reparo. Este é um turista que gosta de ir aos locais e ver, conhecer na primeira pessoa. São também, regra geral amantes da natureza e dos meios rurais.
Com os factos enunciados facilmente constatamos ser o nosso Concelho um potencial destino turístico para estes ciganos dos tempos modernos. Tal como os filhos do vento estas gentes gostam de se instalar em locais sossegados e aprazíveis para desfrutarem do seu tempo com a qualidade e tranquilidade dignas de umas férias. Os nossos cursos fluviais, depois de verem as suas margens regularizadas e os seus caudais estabilizados, podem proporcionar locais que se encaixam perfeitamente no tipo de destino pretendido por uma crescente fatia do mercado turístico.
Se o POAA (Programa de Ordenamento da Albufeira da Aguieira) veio remover o grilhão que asfixiava o investimento turístico em torno da barragem da Aguieira, também é verdade que talvez tenha pecado por exagero. O POAA permite a construção de um Parque de Campismo em cada um dos 4 concelhos abrangidos (Carregal do Sal, Mortágua, Santa Comba Dão e Tábua). O ser permitido não significa que sejam construídos, mas cria de facto essa possibilidade. Isto juntando-se ao facto de ser impraticável promover o turismo aquático na albufeira da Aguieira enquanto a água se encontre no estado de poluição actual.
Assim em Mortágua poderíamos criar um inovador parque de campismo que ao invés de se concentrar todo numa só área, agrupando dezenas ou centenas de turistas, se espraie ao longo das nossas linhas de água em pequenas áreas preparadas para a recepção de um punhado de campistas nas suas auto caravanas e/ou tendas. Assim possibilita-se a quem visita um contacto directo e intimista com a natureza com alguma regra que possa garantir a qualidade desejada e reduzir o impacto no meio ambiente.
Estas áreas campistas estariam equipadas, por exemplo, com um pequeno fogareiro (construído por forma a precaver os riscos da estação estival, claro), instalações sanitárias mínimas, sistema de descarga de águas sujas para as auto caravanas, mesas com bancos, terreiros de jogos, e com tudo o que demais possa ocorrer. Paralelamente seria fácil promover mercados como o aluguer de bicicletas ou pequenos veículos motorizados todo o terreno, canoas, equipamento de pesca, etc… o limite seria a imaginação. Ao longo das margens, e unindo estas áreas, existe ainda a possibilidade da criação de circuitos onde quem está de férias se possa passear a pé ou de bicicleta, a passo lento ou ritmo de corrida. Estes circuitos seriam, como é lógico, uma mais-valia para os próprios habitantes do nosso Concelho que os poderiam utilizar durante todo o ano.
Mas para atingirmos um patamar de qualidade (e aí devo referir a minha concordância com o referido artigo na publicação autárquica) temos que tratar bem melhor as nossas ribeiras. Garantir corredores ecológicos com a vegetação natural. Acabar determinantemente com os efluentes domésticos e industriais, e acabar com o atulhar dos leitos com as sobras da exploração florestal.
Para citar John F. Kennedy, visto estar na moda, numa frase “roubada” a Bernard Shaw: «Outros olham para as coisas e perguntam-se porquê. Eu sonho coisas que nunca foram e pergunto: “Porque não?”»
 


sinto-me:

publicado por Mário Lobo às 02:40
link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 1 de Agosto de 2008
Frescuras de Verão

Texto publicado na Defesa da Beira em 1 de Agosto de 2008


Com a chegada do calor vem-nos à memória o tempo que passavamos, quando crianças, deliciados nos nossos cursos de água. Fosse a chapinhar, a pescar, ou tão só a aproveitar a sombra dos salgueiros e de outras árvores locais.
Hoje, tudo isso, não passa de saudade e de memórias distantes. As ribeiras correm quase secas, as águas sujas, a fauna piscicola é quase inexistente e, as margens descaracterizadas e inacessíveis.
O recente discurso da aposta no Turismo nunca encontrou reflexo na criação de reais condições para o desenvolvimento dessa área económica. Desconhece-se, inclusivé, qual o projecto de desenvolvimento turistico para Mortágua. Será provavelmente um aldeamento auto-suficiente junto a Almaça e um proto-campo de golfe na zona do Falgaroso do Maio.
Em verdade se diga que andar a visitar a maior mancha de eucaliptos nacional não é, de facto, grande chamariz. Assim, talvez se entenda a concentração de forças na região da, infelizmente « super-mega-hiper-ultra-poluída » (como diria a portagonista principal de uma telenovela da nossa televisão), Albufeira da Aguieira.
Com vários atletas de topo, a nivel mundial, e com uma bacia hidrográfica própria1 em conjunto com as barragens de Macieira e da Fraga (cuja solução se espera vir a ser encontrada) temos as condições ideais para o desenvovimento do turismo piscícola. Há, no entanto, muito trabalho ainda a fazer: regularizar as margens das ribeiras, recuperar as represas, regular caudais com recurso às albufeiras serranas, construir escadas de peixe, criar corredores ecológicos junto aos cursos de água e, mais importante que tudo, sensibilizar as populações para a riqueza que é uma rede fluvial em boa saúde.
Por fim, a criação de uma boa rede de acessos a toda esta rede fluvial, com a abertura de vias pedestres e ciclovias ao longo das nossas ribeiras.
 


1à excepção dos rios limítrofes (Mau, Criz, Dão e Mondego) todos os nossos cursos têm origem no nosso concelho


sinto-me:

publicado por Mário Lobo às 16:21
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Março 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
17

18
19
20
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30
31


posts recentes

Verdes são os Campos...

Frescuras de Verão

arquivos

Março 2012

Outubro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Outubro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Janeiro 2007

Julho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Dezembro 2005

Setembro 2005

Julho 2005

Junho 2005

Setembro 2004

tags

todas as tags

links
blogs SAPO
subscrever feeds