Fomos há não muito tempo confrontados, na imprensa nacional, com a notícia de que os trabalhadores do nosso país só iriam trabalhar um terço dos dias de 2008. O que é a mais completa mentira. Os portugueses vão trabalhar 226 dias, o que corresponde a pouco mais de metade dos dias do ano, ou seja 62% dos dias. E isto porque é ano bissexto. Senão só trabalhariam 225 dias. Quer dizer que cada português vai ter na realidade 140 dias de descanso.
Ao ser anunciada esta grande “descoberta” o patronato e algumas forças políticas a ele mais ligadas não perderam tempo em apontar este excesso de dias de repouso como causa da fraca evolução da nossa economia.
Aponta-se o dedo às famosas pontes. Intentam-se manobras para que os feriados sejam celebrados junto aos fins-de-semana, às segundas ou sextas. Há ainda os que, julgando ver todo o mal da economia no pouco tempo de trabalho dos portugueses, lutam para que estes sejam banidos do calendário português.
Mas vamos então ver de onde vêm os 140 dias, esse “astronómico” número:
1. Havendo 52 semanas no mês, há também 52 fins-de-semana; 52 Sábados e 52 Domingos. Portanto temos aqui 104 dias.
2. Em seguida devemos somar os 25 dias úteis de férias a que os trabalhadores portugueses têm direito. Temos 129 dias.
3. Por último devemos adicionar a mais “ignóbil” das parcelas, os feriados. Em Portugal temos 14 feriados nacionais. Destes, no próximo ano, 11 são à semana. E temos os nossos 140 dias.
Talvez seja também de verificar o número de dias de férias que têm outros países da nossa Europa. De acordo com os argumentos de quem acha que os portugueses trabalham pouco, seria lógico que nos países com uma economia mais dinâmica e saudável os trabalhadores tenham menos dias de férias. Assim temos:
· Reino unido: 28 dias;
· Suécia: ente 25 e 32 dias, dependendo da idade;
· França: 25 a 35 dias;
· Por último a Alemanha, Áustria e Noruega com 25 dias, como o nosso caso.
Há claro países com menos dias de férias, como o caso da Bélgica e da Holanda com 20 dias. Mas ainda assim podemos seguramente afirmar que não existe uma relação directa entre a produtividade (ou falta dela) e o número de dias de férias.
Mas voltando às pontes e aos feriados. Parece que este ano são mais. Ou melhor, que são mais à semana, especialmente à 3ª e 5ª feira, o que os torna apetecíveis para as pontes.
Uma simples consulta aos calendários dos últimos anos permite-nos ver que teremos em 2008 tantos feriados à 3ª e 5ª como em 2007; a saber: Carnaval, 25 de Abril e Natal à 3ª, Corpo de Deus e Dia de Todos os Santos à 5ª. Mas já em 2006 o número de feriados nesses dias da semana tinha sido de 5. E em 2005 também. Aliás, desde 2000 tiveram todos 5 feriados à 3ª e à 5ª. Não tiveram estes 5 feriados nestes dias os anos 1999 e, antes desse, 1993 e 1988. Em verdade se diga que desde 1907 (de há 100 anos para cá) só 14 anos não tiveram 5 feriados à 3ª e 5ª. E nesses 14, o número de feriados “a convidar à ponte” foi de 4. Os feriados, ou são 5 (86 vezes) ou 4 (14 vezes). E o próximo ano só com 4 será 2010, e depois 2016, 2021, 2027, etc…
Então afinal onde está a grande excepção deste ano? Em lado nenhum.
E, como prometido, vamos ver como é “lá fora” de feriados: Alemanha – 13, Áustria – 17, Bélgica – 16, Dinamarca – 14, Espanha – 14, França – 14, Itália – 14, Luxemburgo – 12, Noruega – 17, Holanda – 10, Reino Unido – 11, Suécia – 19, Suíça – 19 e República Checa – 14.
Não estando listados todos os países da Europa ocidental ainda assim podemos dizer que só uma quinta parte deles tem menos feriados que nós.
Se pensarmos numa Suécia, com os seus 19 feriados e 35 dias de férias, temos que ter pena deles, porque por certo não vão endireitar a economia. Pobres suecos…
Mas a realidade é bem diferente. A realidade, que todos nós conhecemos, é a de que a Suécia é um dos países com melhores condições de vida. Se não mesmo o melhor.
Por isso, lamento “desencantar” aqueles que acusavam o ano de 2008 como sendo amigo dos preguiçosos. É afinal mais um ano normal, no que toca a feriados e possibilidades de pontes. Com a desvantagem numérica de ter mais um dia para trabalhar.
A esses que viam o número de dias de repouso garantidos pela lei como principal entrave ao desenvolvimento da nossa economia resta-me dizer que olhem para dentro. Ou talvez que olhem para fora, para a Suécia, e aprendam as diferenças entre as organizações de produção dos dois países. Aprendam e implementem as mudanças necessárias.
Por fim só esclarecer mais uma pequena confusão. Se o trabalhador quiser de facto fazer ponte nas 5 oportunidades que tem, será por certo a custas dos seus dias de férias. Essas pontes não são dias roubados à recuperação da economia, como se quer fazer crer. O que não vem, por isso mesmo, alterar as contas. A menos que o patrão, agora esclarecidas as coisas, ache que o empregado merece mais 5 dias de férias e adopte a tolerância de ponto nos enclaves laborais que vai ter o ano vindouro.
Recordando e resumindo: o ano de 2008 terá 366 dias, dos quais 226 são dias de trabalho. Os trabalhadores irão ter os mesmos 25 dias de férias. E haverá, como de costume, 52 fins-de-semana. E com 14 feriados nacionais, acrescidos de um municipal. Destes, 5 são oportunidades de ponte. Com a desvantagem para nós mortaguenses de o feriado municipal coincidir com o 1º de Maio.
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