Completam-se na terça-feira 32 anos do Portugal Democrático, perdão, do Portugal de Direito Democrático (assim versa a Constituição da República Portuguesa após a sua 2ª Revisão). Há 32 anos, por esta altura, ultimavam-se em segredo os preparativos para o golpe militar que haveria de derrubar a Ditadura congeminada por António de Oliveira Salazar 48 anos antes. Um grupo de oficiais das Forças Armadas revoltados contra o impasse verificado nas guerras de Africa e contra a situação de extrema pobreza em que vivia o Povo Português decide criar o Movimento das Forças Armadas (MFA) com o intuito de derrubar o poder. Não com o objectivo de tomar este poder para si, mas sim de o devolver ao Povo, ao qual ele deve sempre pertencer.
Com este intuito o Programa do MFA define 3 fases bem distintas com objectivos muito específicos, de forma a permitir a ligeira e eficaz transição do poder, ao momento detido pelo MFA na figura da Junta de Salvação Nacional, para as mãos do povo. Desde logo as forças anti-revolucionárias se perfilaram e orquestraram formas de impedir esta transição. Das várias tentativas do General Spínola à sabotagem da acção dos militares do MFA levada a cabo pelos mais variados partido e organizações auto-intitulados de socialistas e/ou sociais-democratas. Havia ainda a acção de forças pseudo revolucionárias (tal como a que jocosamente era conhecida por Meninos Ricos Pintam Paredes, ou MRPP) que através das suas acções encapuçadas tentavam denegrir a imagem daqueles que de facto lutavam por um Portugal Democrático, em actividades como a sobejamente conhecida invasão e saque da Embaixada Espanhola em Lisboa.[i]
De então a esta parte são inumeráveis os ataques à soberania popular.
O que surpreende cada vez mais é a ousadia com que alguns detentores de cargos políticos anunciam aos quatro ventos a saúde da Democracia Participativa, quando por outro lado são eles mesmos a criam regras e mecanismos para impedir cada vez mais o acesso popular ao Poder. A Constituição da República Portuguesa define claramente no seu segundo artigo, o objectivo de se caminhar para esta Democracia Participativa, mas este caminho passa por muito mais do que o simples colocar de um voto na urna.
Colocado está o voto, e cedo a grande maioria dos eleitos se esquecem das promessas feitas, e dos valores de Abril que tanto aclamam defender. Esses que se perfilaram logo no dia 26 de Abril de 1974 para impedir que o Povo Português tivesse aquilo que qualquer povo merece. A liberdade, a prosperidade, a igualdade e acima de tudo o poder e o acesso a condições de vida dignificantes.
Regem os seus feudos como alcaides medievais sem passarem cartão a quem os elegeu. Trocam de Partido e de “credo” político com o fim exclusivo da obtenção de poder, como quem troca de camisa. São verdadeiros cata-ventos políticos.
Reúnem, decidem e implementam. Muitas vezes sem ter em consideração as reais necessidades populares. Manobraram, ao longo destes 30 anos de constituição, as leis por forma a que o poder de manifestação do povo fosse cada vez mais cerceado. Enclausuram-se nas suas cimeiras falando por todos como se de algum Messias se tratassem. E por fim, quando já não há leis que lhes permitam fechar mais as portas ao povo, remodelam os actos públicos onde este pode ter intervenção regulamentando-a a seu bel-prazer e estabelecendo horários para estes nos quais ninguém pode comparecer. Dia após dia surgem cada vez mais notícias do envolvimento dos detentores do poder em casos pouco claros, alguns mesmo a rondar a barreira do peculato e corrupção e outros mesmo a ultrapassar esse limite. Confiando em números divulgados por Maria José Morgado, mais de metade dos órgãos de poder em Portugal são permeáveis à corrupção.
Ora esses arautos do dito poder popular mais não são que flautistas encantadores que com sua doce melodia nos vão iludindo e nos vão roubando o pouco pão que ainda temos para comer. Caciques, isso sim, ao serviço do poder burguês que engordam a cada migalha que ao povo conseguem roubar. Para no fim a nós se dirigirem com parangonas afirmando que ainda somos nós que detemos o poder, e que a parco quociente que nos calha nesta divisão do todo mais não é que o resultado da nossa força de esforço. Enquanto eles se abotoam com a fatia de leão.
Convém não ficar “sentado à sombra da bananeira” da revolução e pensar que está tudo feito. Uma Revolução não acontece num dado momento, mas sim inicia-se num dado momento. A Revolução é um movimento, é um avançar constante.
Por isto tudo, e por muito, muito mais, não podemos deixar morrer Abril.
Por isto, e como cada vez mais é preciso, com mais força que nunca:
Fascismo Nunca Mais!
25 De Abril Sempre!
«Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente.
A gente muda o mundo na mudança da mente.
E quando a mente muda a gente anda “prá” frente.
E quando a gente manda ninguém manda na gente.
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura.
Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro!»,
in ‘Até Quando?’, de Gabriel o Pensador
já não ouvia isto há algum tempo... mas vale a pena, ouvir, ler e depois pensar...
Não adianta olhar por céu, com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer Até quando você vai ficar usando rédea? Rindo da própria tragédia? Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou classe média). Até quando você vai levar cascudo mudo? Muda, muda essa postura Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura. Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente, seu filho sem escola, seu velho tá sem dente Cê tenta ser contente e não vê que é revoltante, você tá sem emprego e a sua filha tá gestante Você se faz de surdo, não vê que é absurdo, você que é inocente foi preso em flagrante! É tudo flagrante! É tudo flagrante! Refrão A polícia matou o estudante, falou que era bandido, chamou de traficante. A justiça prendeu o pé-rapado, soltou o deputado... e absolveu os PMs de vigário! Refrão A polícia só existe pra manter você na lei, lei do silêncio, lei do mais fraco: ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco. A programação existe pra manter você na frente, na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você. Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar. O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar. E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá. Consigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralar. Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar. Não peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar? Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar. Escola, esmola! Favela, cadeia! Sem terra, enterra! Sem renda, se renda! Não! Não!! Refrão Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a mente muda a gente anda pra frente. E quando a gente manda ninguém manda na gente. Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura. Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro! Até quando você vai ficar levando porrada, até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai ficar de saco de pancada? Até quando você vai levando?
Até quando? - Gabriel o Pensador, in Seja Você Mesmo, Mas Não Seja Sempre o Mesmo
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