O texto que se segue foi publicado no jornal Defesa da Beira em 9 de Abril de 2010.
Afirma-se como resposta a este texto meu.
Na última edição da Defesa da Beira, lado a lado, uma só versão e em comunhão de ideais, foi publicada em dois artigos distintos. Falavam-nos da Escola. Da Escola, que ambos admiram tanto e que tantas saudades lhes traz.
Oito da manhã. Os petizes (em maioria os rapazes, que as raparigas só muito mais tarde fizeram parte dessa história), de merenda e sacola na mão, e com uma chouriça e dois ovos para a Senhora Professora, pinhal fora, à chuva, dirigiam-se à Escola, nas manhãs gélidas e húmidas, escuras e escondidas no nevoeiro. Os sapatos, esses, eram muitas vezes forrados a pele... e como doía a geada..., mas a brincadeira de, na “calçada” da aldeia, fazer passar a lama por entre os dedos dos pés, tudo apagava...
Ali chegados, um Pai Nosso e uma Avé Maria, de joelhos, virados para o crucifixo da parede por cima do quadro negro, e ao lado a fotografia do Senhor Presidente do Conselho...
Sentar e mostra os deveres. Não fizeste? Tens dois erros? Erraste três contas? Ora toma três reguadas, um puxão de orelhas e duas lambadas! Melhore aprenderes! E vais para a fila do fundo, que aqui ao cimo ficam os mais espertos.
São dez da manhã. Horas de ir à lenha para alimentar a lareira da sala, e colocar as brasas na escalfeta que está debaixo da secretária da Senhora Professora.
Meio dia. Almoço. Uma sardinha e um pedaço de toucinho com broa.
Três e meia da tarde. Hora de marcar os deveres. Para a Terceira Classe, estudar a lição “Bom Chefe de Família”, em que o Homem chega a casa, vindo da honesta e nobre Lavoura, o filho faz os deveres, a Mulher é a Fada do Lar e a filha ajuda-a na lida da casa, pobre e simples, mas asseada e humilde. Como se impunha. A verdadeira e patriota família portuguesa.
Quatro da tarde. Levantar, cantar o hino e ... marchar, marchar..., “Se aprenderem e se portarem bem ainda pode ser que façam boa figura na Mocidade Portuguesa para estarem preparados para que num futuro próximo venham a ter a honra de ir defender a Pátria nos nossos Territórios Ultramarinos...”
Bons tempos. Isso é que era uma Escola. Assim sim, valia a pena!
Fico admirado com a coincidência de opinião demonstrada por dois escribas que tão separados nela pareciam, mas enternecido pelo sentimento por ambos demonstrado.
João Pedro Fonseca
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