A Palavra Livre de Mortágua

Sexta-feira, 30 de Outubro de 2009
Carta Aberta à nova Câmara Municipal

Exmo. Sr. Presidente,
Exmos. Srs. Vereadores,
Propostos pelas vossas estruturas partidárias fosteis escolhidos em sufrágio para conduzir os destinos do nosso Concelho nos próximos 4 anos. Esta é uma grande responsabilidade que exige de vós serdes os autarcas de todos munícipes. A vossa posição deve ser sempre a de equidistância de todos os cidadãos e de todas as intituições e vossa próximidade ser a maior possível.
Sendo vós os escolhidos para nos governar não signica que sejais omniscientes nem se dejesa que sejais omnipotentes. A construção da Democracia é um processo constante e não se limita ao acto electoral. Auscultar, explicar, debater e sondar sentimentos devem ser uma constante na vossa prática futura. Só todos juntos podemos fazer um Concelho melhor.
E para que todos possamos participar positivamente na definição das políticas para o nosso futuro comum é, antes demais, necessário que todos estajamos devidamente informados, ou que nos seja garantido o acesso a toda a informação existente. O sítio internet da autarquia (www.cm-mortagua.pt) deve ser um portal de acesso ao Concelho. Nele devem ser publicados com toda a prontidão todos os documentos relativos à gestão do Concelho, não só os aprovados pela Câmara Municipal mas também os de outras instituições e que possam estar relaccionados com o nosso Concelho, a exmplo o Plano Regional de Ordenamento Florestas Dão-Lafões e o Plano de Ordenamento da Albufeira da Agueira.
Só com pleno acesso à informação um qualquer munícipe pode ser verdadeiramente participativo e construtivo. A não divulgação pública da informação conduz inevitavelmente à criação de grupos priveligeados. Não que os Senhores venham propositadamente a divulgar a informação a um só grupo de munícipes, mas porque, como seres humanos sociais, é prefeitamente natural que no nosso grupo restrito de amigos e confidentes todos os assuntos sejam discutidos, tendo esses facilitado o acesso ao conhecimento sobre o Concelho.
É preciso não esquecer que a transparência e a igualdade são práticas activas e que não acontecem por inércia ou involuntáriamente.
Quanto à equidistância sou defensor do princípio de que nenhum membro da Câmara Municipal do meu Concelho pertença a qualquer tipo de órgão de qualquer instuição, salvo aquelas a que obrigados por imperativo legal. Este princípio prende-se com a não potênciação de grupos priveligiados de acesso ao poder e à informação. Todos entendem que a direcção de uma Associação da qual faça parte um Vereador (exemplo arbitrário) terá facilitada a sua vida no que toca às relações com a Câmara Municipal. Não que eu veja mal nenhum em haver canais priveligiados de informação, se eles existirem para todos. Portanto ou todas as instituições concelhias têm nos seus órgãos um elemento da Câmara Municipal (as que assim o desejem, claro) ou então estes devem abster-se dessa participação cívica. A dedicação à política tem alguns custos pessoais e cívicos e este é um deles. Relembro que nenhum dos Senhores está na posição de autarca involuntariamente, todos o quiseram.
Isto dito, permitam-me a veleidade de os aconselhar a escutar toda a gente, a discutir todo e qualquer projecto de importância mais significativa, quer pela sua dimensão e importância quer pela sua projecção no tempo, não em pequenos grupos de trabalho mas em fóruns públicos por forma a que todos possam dar as suas opiniões. Entendo que não é fácil este trabalho, mas para uma câmara com 7 elementos por certo que a divisão de tarefas o permitirá.
Por último, ao Sr. Presidente peço um acto de pluralismo e de aceitação das divergências políticas e, estando eles a isso dispostos, atribua pelouros e responsabilidades reais aos vereadores da oposição. Também eles têm projectos, e muitos deles válidos por certo, que foram sufragados e que, ainda que não recebendo o apoio maioritário, receberam apoio suficiente dos Mortaguenses para serem eleitos.
Com desejos de um bom mandato, para vós e para os Mortaguenses, me despeço,

Mário Lobo


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Sexta-feira, 23 de Outubro de 2009
Carta Aberta à Nova Assembleia Municipal

Exmos. Srs. Deputados Municipais,

O órgão ao qual fostes eleitos, alguns pela primeira vez, é o de maior importância na Democracia Local. A vós caberá nos próximos 4 anos tomar todas as decisões de fundo sobre o nosso Concelho. Certo que as tarefas de carácter executivo são levadas a cabo pela Câmara Municipal, no entanto estas só são possíveis se enquadradas nas decisões por vós tomadas.
A vós caberá antes de mais a aprovação do Orçamento e do Relatório e Contas anuais a apresentar pelo órgão executivo (a Câmara Municipal). A vós caberá fiscalizar pela boa execução das políticas definidas e pela boa gestão do Orçamento Municipal.
Terão, por certo, consciência os Senhores de que não são nem de perto nem de longe conhecedores de toda a verdade. Também por isso existem paralelamente à Assembleia Municipal órgãos de cariz consultivo aos quais os Senhores Deputados recorrerão sempre que assim o entendam necessário. São estes órgãos os Conselhos Municipais. Há-os, entre outros, da Segurança, da Educação e da Juventude. Outros poderão ser criados se a Assembleia Municipal assim o entender, cabendo depois ao Presidente da Câmara a sua instalação.
Mas certo é também que não haverá um Conselho Municipal que contemple toda e qualquer área sobre a qual a Assembleia Municipal deve decidir. Por isso, diz a lei, que as reuniões da Assembleia Municipal são públicas e abertas à participação popular. Quer isto dizer que toda e qualquer pessoa tem o direito a assistir a estas reuniões e a nelas fazer-se ouvir.
Muito se tem falado nos últimos tempos em implementar uma Gestão Participada (ou Participativa) do município. Quer isto dizer que se pretende dar mais voz directa ao povo. Claro que se eleições houve a decisão final caberá sempre aos eleitos, mas não sendo estes (como já referi) senhores de toda a verdade, compete-lhes ouvir os eleitores sempre que estes entendam necessário. Pois toda a ajuda é pouca quando se pretendem tomar decisões que vão influenciar a vida de 10.000 pessoas. Para esta Gestão Participada é preciso, no entanto, garantir livre acesso a toda a documentação municipal existente a qualquer cidadão.
Em breve irá tomar posse a nova Assembleia Municipal, para a qual os Senhores Deputados foram eleitos. A primeira reunião não deve ser encarada como uma simples formalidade. É nessa reunião que se vai definir os moldes em que funcionará o Órgão Decisor Municipal durante os próximos 4 anos, portanto a mais simples decisão que se tome nessa primeira reunião terá impacto ao longo de todo o próximo mandato.
Se permitem gostaria de pedir aos Senhores Deputados que considerem incluir no Regimento da Assembleia Municipal estas minhas sugestões:
·         Definir, como acontece já em muitos Concelhos do nosso país, que TODAS as reuniões da Assembleia Municipal, salvo eventual imperativo legal, se realizem ao Sábado à tarde de forma a permitir a participação popular desejada, interventiva ou não;
·         Definir o tempo de intervenção dos munícipes para o fim do período antes da ordem do dia, permitindo assim aos populares que desejam intervir sobre um qualquer assunto a discutir nessa reunião ter uma opinião capaz de esclarecer a decisão a tomar;
·         Garantir que todos os documentos a ser discutidos numa reunião da Assembleia Municipal sejam disponibilizados quer nos Paços do Concelho quer na Biblioteca Municipal para consulta pública, com o intuito de permitir aos munícipes que desejam intervir na reunião que se informem sobre os assuntos a discutir, e para que estes possam também detectar eventuais lapsos ou incorrecções, tão características aos Humanos. Também os autarcas são Humanos;
·         Regulamentar a publicação no sítio internet da autarquia todos os documentos aprovados em reunião de Assembleia bem como as suas actas, como mandam a Lei das Finanças Locais e a Lei de Acesso aos Documentos Administrativos. Com o intuito a garantir uma verdadeira participação popular esta publicação deve ser feita com a maior brevidade possível, o que não é tão complicado quanto isso pois hoje em dia todo e qualquer documento é feito com recurso ao computador;
·         Por último promover a publicação de um Boletim Informativo relatando a actividade deste Órgão e explicando “ao comum dos mortais”, entre outras coisas, o Orçamento Municipal.
Despeço-me dos Senhores Deputados Municipais com o desejo dos melhor mandatos e de um trabalho feito para a população Mortaguense,
Mário Lobo

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Sexta-feira, 17 de Julho de 2009
"O Outono do Patriarca"

 

«Durante o fim-de-semana os urubus enfiaram-se pelas varandas da casa presidencial, desfizeram à bicada as redes de arame das janelas e remexeram com as asas o tempo estancado no interior e na madrugada de segunda-feira a cidade acordou do seu letargo de séculos com uma morna e mole brisa de morto grande e de apodrecida grandeza.»

Começa assim o romance de Gabriel Garcia Marquez que deu título a este artigo. Este livro fala de um ditador dum qualquer país das Caraíbas, como muito que houve na primeira metade do século XX, que aos poucos se foi distanciando mais e mais do seu povo. Governava já um país onde até já o mar tinha sido vendido aos americanos. Governou até morrer, ninguém sabe bem com que idade, mas algures entre os 107 e os 232 anos. Governava sozinho do seu palácio presidencial suportado por um séquito de ministros e criados. Acometido pelo «vício solitário do poder, até o seu próprio compadre serviu ao jantar» descartando-se assim aos poucos até daqueles que lhe tinham sido próximos.

Com o aproximar das eleições autárquicas surge nas conversas do dia-a-dia a composição do próximo executivo. Agregada a esta conversa sempre os arautos da continuidade. De que não há alternativas. De que a eternização do status quo é a melhor e única solução. Este raciocínio é democraticamente perigoso, e em vários sentidos. Primeiro cria a figura do iluminado, do messias, sem a qual nós portugueses não vivemos desde que perdemos um tal de D. Sebastião por terras de Alcácer-Quibir. Depois porque é passar um atestado de estupidez a todos os outros mortaguenses. No seguimento da ideia de que há um messias e que todos os outros são estúpidos advoga-se qualquer dia a supressão das eleições autárquicas. Para quê fazer eleições se a solução que temos é a melhor, ou mesmo a única? Claro que este tipo de raciocínio só pode interessar a um tipo de pessoas. Interessa ao Patriarca de Gabriel Garcia Marquez tal como a todos os outros que se tenham deixado seduzir pelo «vício solitário do poder».

Como não se pode acabar com as eleições, pois a Constituição da República e pelo menos uma força política, que nas palavras do autarca local se apoderou de Abril (assunto sobre o qual já tive o prazer de versar), não deixariam que se acabasse com elas. Resta então subverter as regras do jogo. Se há 8 anos foi a festa de Natal para os funcionários da autarquia na véspera das eleições, há 4 anos a parada subiu. Assim tivemos em Espinho um anónimo a oferecer dois leitões e a convidar toda a gente para a inauguração dos novos lavadouros construídos pela junta de freguesia, também no dia anterior ao escrutínio. Mas tivemos ainda a mais cara operação de charme por parte da autarquia mortaguense: o aumento de 40 mil euros em 2003 e 2004 para 100 mil euros em 2005 da verba orçamentada para a Festa da Juventude/Feira das Associações. Foi só um pequenino aumento de 250% que por acaso, e só por acaso, coincidiu com o ano de eleições.

Fazendo aqui um pequeno aparte, fui membro da Comissão que organizou os festejos municipais em 2002 e 2003. Foi em 2002 que se decidiu acabar com o concerto no campo da Gandarada por “ser uma actividade algo cara” e porque “quando se começou a fazer o concerto na Gandarada não havia alternativas do género aqui na região, era preciso ir a Lisboa ou ao Porto”. Foi então que se trouxe o Jorge Palma num ano e o Vitorino no outro, numa intenção de se trazer música portuguesa de qualidade, mas de artistas que apesar de primeira água não são infelizmente os mais reconhecidos. Decisão que apoiei plenamente. Em 2005 curiosamente essa lógica foi abandonada e tivemos o regresso dos grandes – à medida da terra – concertos. Foram então os Xutos & Pontapés, pela 3ª vez em Mortágua, a dar ar de sua graça numa hiperlotada praça do município. Pois… se calhar os Xutos chamavam mais gente nova a votar “bem” nas eleições em Outubro que um Vitorino ou um Jorge Palma.

Mas voltando ao tema, o romance que titula este texto fala de um tempo após o fim da ditadura. Numa segunda-feira em que as portas do palácio se abriram de par em par. Quando chegaram ao interior as populações encontraram o ditador bem como todos aqueles que lhe serviam de suporte mortos. O verdadeiro governo fantasma. Mas o povo nunca tinha dado conta que já não havia governo, que já não havia poder, pois quando ainda em vida o patriarca já pouca ou nenhuma atenção prestava ao seu povo. Era um governo que governava de si para si. Lá fora o país funcionava sozinho e tinha que se governar sem os éditos legais do seu regente, pois estes em nada contemplavam o bem-estar do povo. E sem ninguém que o sucedesse perpetuou-se no poder até morrer.

A nossa lei já não permite isso. Ao fim de 3 mandatos consecutivos, a partir de 2001, os nossos patriarcas têm que abandonar o poder. Esta lei pode levantar uma grave questão. A ser verdade a origem messiânica e iluminada do nosso bi-decenário Presidente de Câmara, como muitos querem fazer querer, serem todos os outros estúpidos demais para assumir tal cargo, como querem os mesmo fazer-nos querer também, e a consequente inevitabilidade da recondução do líder do executivo autárquico, quer dizer que daqui a 4 anos vamos ficar completamente à deriva. Porque daqui a 4 anos não vamos mais ter ninguém capaz para conduzir os desígnios do Concelho.

Dia 11 de Outubro vamos ser chamados a escolher o Executivo Camarário e a Assembleia Municipal. Este ano, em virtude da nova lei do recenseamento eleitoral, o concelho de Mortágua vai passar a ter uma Câmara Municipal composta por 7 elementos, ao contrário de 5 até ao momento. Desses 7 elementos são um Presidente e 6 Vereadores. Também, em virtude disto, a Assembleia Municipal passa dos 25 para os 31 elementos de onde 21 eleitos (contra actuais 15) e 10 Presidentes de Junta de Freguesia por inerência de funções.

Ao acabarmos com o mito do messias podemos, e devemos, acabar também com outro, que é o da alternância. Não temos só dois partidos para votar. Em Mortágua teremos este ano 4 forças políticas candidatas à Câmara Municipal. Se é verdade que só duas delas estão em condições de fazerem eleger um Presidente de Câmara também não é menos verdade que qualquer uma das duas forças com menos representação teve mais actividade e opinião política neste último mandato que as duas formações de capacidade presidencial. Não seria melhor Câmara aquela que ao invés de ter duas só cores presentes pudesse ter o máximo possível? Não haveria mais e melhor discussão dos projectos para a autarquia? A ausência de uma maioria absoluta dentro deste órgão que comanda os destinos do nosso Concelho levaria a que este tivesse que ser mais aberto, democrata e pluralista. Obrigava a que os políticos em exercício de poder tivessem que ouvir mais e melhor as reais aspirações do povo que governam.

Dia 10 de Outubro é dia de reflexão. Neste dia é, por lei, proibido fazer campanha , apesar das festas de natal e dos leitões anonimamente oferecidos. Nesse dia, e em todos os outros até lá, é de pensar nas propostas de cada uma das forças políticas, pelo menos nas daquelas que as têm apresentado. Avaliar a sua participação pública, pensar em qual se preocupou em falar com as pessoas, ouvir e responder às suas questões, em transmitir as suas ideias e projectos. Fazer também o pequeno exercício de ponderar as soluções que cada uma apresenta para o concelho. Mas lembrar sempre que não é o Presidente da Câmara que faz tudo. Se assim fosse a autarquia não precisava de todos aqueles funcionários. Ao Presidente cabe coordenar a política a aplicar no Concelho, de acordo com as propostas apresentadas eleitorais apresentadas, e aos funcionários da autarquia, desde o técnico ao operário, construir a obra e levar a cabo os projectos. Outros terão seguramente também a capacidade para comandar aquele corpo de funcionários.

Não esquecer também que a Câmara Municipal é só órgão executivo, só executa, quem decide é a Assembleia Municipal. Se é importante não haver maiorias absolutas no órgão executivo mais importante é não haver no órgão decisor. A presença dos chamados pequenos partidos na Assembleia Municipal é uma garantia de pluralidade. Quem já assistiu a reuniões da Assembleia Municipal sabe bem que, sem ofensa ou provocação às religiões, o que se lá passa é uma missa. As decisões são apresentadas e votadas quase em uníssono. O “grande partido da oposição”, regra geral, nada de novo apresenta e diz ámen ao que se lhe põe defronte, com o seu candidato às próximas autárquicas a tecer rasgados elogios ao Sr. Presidente da Câmara e à sua prática política. Quanto aos Presidentes de Junta totalmente dependentes do orçamento municipal e da boa vontade do edil nada dizem ou fazem.

É importante acabar com este estado de coisas. Os órgãos de poder devem representar a opinião das pessoas e não tentar controlá-la e dirigi-la.

Dia 11 de Outubro, todos ao voto. Só a nós compete mudar as coisas.

Na madrugada de segunda-feira, dia 12 de Outubro, vamos acordar Mortágua do seu letargo.

 

 

 

Mário Lobo

 


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Sexta-feira, 13 de Março de 2009
"Ele há coisas assim..."

 Línguas de perguntador

Foi, não há muito tempo, realizado em Mortágua um Inquérito/Sondagem à população. Este inquérito tinha dois tipos de perguntas distintas. Se um lote indagava as pessoas quanto à sua opinião sobre um conjunto de obras realizadas e a realizar pela autarquia. O outro pretendia aferir sobre as intenções de voto e apoio político dos mortaguenses.

Inquéritos, há-os para todos os gostos. Depende de quem os encomenda e com que fim. Mas há sempre alguém que os manda fazer. E interessa que alguém os mande fazer, pois a recolha e tratamento de informação são processos caros e as empresas gostam de receber por cada pergunta que fazem e processam.

Uma sondagem de opinião sobre a obra feita, em momento tão próximo de eleições é uma coisa no mínimo intrigante. A obra feita no Concelho de Mortágua vai surgindo como cogumelos em tempo húmido. Sem quê nem para quê… pufff… eis que surge uma obra. Já feita e pronta a usar. Umas melhores, outras piores, mas não é essa agora a questão. Nunca o executivo autárquico se dignou a perguntar à população o que esta gostava de ver feito no Concelho. Agora, obra feita, vem perguntar se as pessoas acham bem ou mal. Qual pode ser o interesse duma Câmara na popularidade da sua obra? Será este um interesse da autarquia ou dos autarcas? Tentar aferir a opinião e simpatia das pessoas face à obra autárquica, ainda para mais tão próximo de um período de eleições, só pode servir para medir a popularidade do actual executivo.

Passemos à segunda secção deste questionário, sobre a orientação política dos entrevistados. Primeiro perguntava-se às pessoas quem gostariam de ver “aos comandos” do Concelho e depois em quem pretendem votar nas eleições autárquicas de Outubro. Então temos uma sondagem que pretende também aferir da orientação política do eleitorado mortaguense, o que nos deixa com uma sondagem bipartida. Uma parte interroga sobre a popularidade da obra feita pela autarquia, a outra interroga sobre a popularidade de um conjunto de indivíduos, todos eles potenciais candidatos às eleições Autárquicas deste ano. Os dois assuntos são promiscuamente interligados.

Antes de mais referir que é prática das empresas que levam a cabo este tipo de trabalhos submeter o inquérito que vai ser realizado à apreciação prévia do cliente. Assim este sabe de antemão todas as questões que são colocadas. Referir também não é de acreditar que a empresa, de mote próprio, tenha introduzido mais questões que aquelas acordadas, até porque por cada questão mais sobem os custos da realização do inquérito e do processamento posterior da informação.

Toda esta salganhada leva-nos a colocar um conjunto de perguntas:

  1. Foi ou não a mesma entidade a requerer os dois lotes de perguntas? Fazendo fé nas palavras do Sr. Presidente da Câmara, na última Assembleia Municipal, não, não foi. A sondagem foi de facto encomendada pelo Sr. Presidente, mas as perguntas sobre a orientação política dos entrevistados revelou-se, nas suas palavras, ser uma surpresa total.
  2. Se não foi, então qual a reacção da autarquia ao saber que num trabalho contratado por si, a empresa fornecedora andava simultaneamente a prestar serviço a outros? Qual a acção, ou acções, tomada pela Câmara para descobrir o que de facto se passou?
  3. Por fim e do ponto de vista executivo, quando foi que a tal sondagem foi encomendada? Qual foi a reunião de Câmara em que a encomenda de tal estudo foi decidida? Foi por ajuste directo ou por concurso que se acertou o valor contratado com a empresa prestadora do serviço? E quanto custou?

Por último uma questão que toca a liberdade política de cada um. Liberdade garantida na Constituição da República Portuguesa. Que posição toma a autarquia sabendo que numa sondagem paga por si se catalogaram munícipes face à sua orientação política? Perguntar o nome, número de telefone e opção política é uma grave violação do direito que cada um tem de poder escolher livremente as suas orientações políticas. É necessário que a autarquia esclareça todo o processo relacionado com esta situação e dê a conhecer publicamente o nível do seu envolvimento neste assunto.

Há aqui muita coisa que é necessário explicar…

Talvez quando o relatório final for enviado pela empresa à entidade contratante este possa trazer alguma luz sobre o assunto.

O quarto de Hotel

Após quase 20 meses do PCP ter alertado para a insustentável situação que se vive em Mortágua no que toca a transportes, eis que a autarquia tem a solução para o problema. Sozinhos, das suas doutas cátedras, engendraram a solução para o problema: vai ser criada uma “Nova Rede de Transporte Público no Concelho”. Assim versa um texto na Agenda da Câmara Municipal de Março de 2009. O texto continua a dissertar sobre as vantagens que vai trazer aos estudantes, que vão poder passar a viajar de graça todo o ano. Fala do aumento do esforço que vai haver para garantir este serviço.

Não fala no entanto nos idosos, com dificuldades de mobilidade, que veriam facilitada a sua vida com um tipo de autocarros de piso rebaixado. Não fala nos que não têm rendimentos, e precisam na mesma de se deslocar. Não fala nos que se deslocam para o trabalho em pequenas motorizadas ao frio e à chuva, nem da importância de servir a zona industrial.

Mas fala duma situação muito engraçada, daí o título desta secção do texto, que passo a transcrever: «(…) ficando assegurada pelo menos uma ligação diária à sede do concelho a partir de cada localidade (…)». Então, Sr. Presidente, e como fazem as pessoas dessas localidades que terão uma só ligação diária? A esses, para quando precisem de vir à vila de transporte público tratar da sua vida ou tão só passear, irá restar marcar um quarto na Pensão Juiz de Fora e regressar a casa no dia a seguir.

O que a população mortaguense precisa é de um serviço que de facto responda essencialmente às necessidades de uma população que é a mais envelhecida de toda a Beira Litoral. Um serviço municipal que permita às pessoas deslocarem-se à sede de Concelho para tratar das suas vidas, fazer as suas compras, vir ao médico e à farmácia, etc… e isto sem que para tal tenham que vir de madrugada e voltar só à noitinha, quanto mais terem que cá pernoitar porque haverá localidades com «(…) uma ligação diária à sede do concelho(…)».


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publicado por Mário Lobo às 00:30
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