Mortágua recebeu recentemente com toda a pompa e circunstância, Primeiro-Ministro, Ministro das Obras Públicas Transportes e Comunicações, Secretário de Estado das Obras Públicas, Presidente da Estradas de Portugal SA, Governador Civil de Viseu e Autarcas de todas as cores.
Em tenda especialmente montada para o efeito procedeu-se ao lançamento da concessão para as Auto-Estradas do Centro.
Esta mui sui generis cerimónia, bem como o seu conteúdo, não podem deixar de levantar algumas questões. Umas mais práticas outras mais estruturais, tais como:
1. Aquele espalhafato todo, com montagem de tenda na rua e tudo, foi custeado por quem? Qual o preço de tal aparato circense? Pergunto-me se não há em Mortágua local condigno para receber o Sr. Primeiro-Ministro e restantes convidados. Têm os Paços do Concelho o seu Salão Nobre e no caso de não ser suficiente o seu tamanho temos o espaço do Centro Cultural Municipal, agora na posse da autarquia pelo período de 25 anos.
2. Onde estava o redactor do texto que noticia este evento no site da autarquia aquando da chegada do Sr. Primeiro-Ministro ao largo da Câmara? Pois eu estava bem perto. Não foram só os aplausos a receber o chefe de Governo. Além de um pequeno grupo de populares de Anadia que a GNR tentou a todo o custo esconder, outros houve da nossa terra que fizeram ouvir a sua voz em forma de contestação, a dada altura bem acima dos parcos aplausos que se faziam ouvir. Para esclarecer esta dúvida basta ver os vídeos dos noticiários da RTP nesse dia. Não devemos ter estado na mesma “recepção” ao alto dignitário da nação, eu e o referido redactor.
3. Que a A24 e o IC12 são vias estruturantes para a Região das Beiras ninguém pode discordar, mas para Mortágua continuam e continuarão, a ser de maior importância o actual IP3 e a ligação directa à Região da Bairrada. Em relação ao actual traçado do IP3 quedaram-se mudos os discursantes de tão grande cerimónia. De barriga cheia não se fala dos pobres. Sobre uma possível remodelação da EN234 e da EN334-1 (estrada do Moinho do Pisco) também nada se disse.
4. Uma boa ligação de Mortágua a Coimbra é uma necessidade indiscutível. Os actuais acessos com recurso ao IP3 ou à “Estrada do Luso” (EN234) não satisfazem de todo esta necessidade. Seja pela insegurança do trajecto num caso, ou pela morosidade do percurso no outro. No caso da EN234 temos ainda de referir o atravessamento de vários aglomerados urbanos: Barracão, Luso, Lameira de São Pedro, Mealhada e Santa Luzia.
5. É de igual forma importante para Mortágua uma rápida e adequada ligação ao litoral, à Região da Bairrada. As mesmas EN234 e EN334-1 podem facultar esse acesso, mas basta conduzir daqui a Anadia pelo Moinho do Pisco para perceber que não é fácil a viagem. Ao facto de não haver um percurso linear de ligação entre as sedes destes dois concelhos vizinhos devemos adicionar uma miríade de povoações que devem ser cruzadas diminuindo assim significativamente a celeridade da viagem. Se os destinos forem as zonas industriais de Oiã ou Oliveira de Azeméis, por exemplo, a contenda torna-se ainda mais morosa.
6. Estas obras pouco ou nada vêm beneficiar o dia-a-dia de Mortágua. A colocação de portagens, já confirmada pelo Ministro Mário Lino, na A24, e por certo também no IC12, vai obrigar os mortaguenses a usar as mesmas soluções rodoviárias que se encontram agora disponíveis. Vai-nos servir esta Auto-Estrada para nos deslocarmos ao Porto e Lisboa ou para irmos de férias ao Algarve. Se 24Km na Auto-Estrada para a Figueira custam €2,20 quanto custarão os cerca de 45Km que nos separam de Coimbra? Ou só os cerca de 20Km que nos separam da Mealhada? Custarão tanto como os 24Km da A14? E para Viseu, sede de Distrito, quando ficará a viagem para Viseu pela A24?
7. Pode argumentar-se que vamos ser beneficiados pela redução de tráfego nas vias existentes. Não duvido que isso venha a acontecer. Não acredito, no entanto, que este seja significativo. Por um percurso com distância semelhante ao Viseu – Coimbra pela nova Auto-Estrada um camião paga na Auto-Estradas da Brisa €13,70. Ao optar pela A24 em detrimento do actual IP3 poderá ganhar 10 minutos, talvez 15. Qual é a empresa que estará disposta a pagar cerca de €14 para ganhar 10 minutos? É perfeitamente natural que a opção seja a “estrada velha”. O potencial de escoamento de mercadorias de Mortágua em nada é afectado por esta obra.
8. Por último, porque deve o acesso ao nó de Mortágua da A24 fazer-se através do centro da povoação do Moitinhal? Ainda por cima destruindo uma zona de lazer como o é a Carreira do Tiro. E o acesso à freguesia do Sobral, como se processará? Terá a população do Reguengo que se deslocar à vila para depois, através da “Estrada de Macieira” ir ao centro do Moitinhal apanhar a ligação para a Auto-Estrada? Terá um habitante do Sobral que fazer mais de 10Km para aceder a esta via estando em linha recta a pouco mais de 2Km? Há aqui algo muito mal pensado…
Em conclusão, não sou, nem posso ser, contra a construção destas vias estruturantes e há tanto tempo reclamadas. Sou contra o modelo apresentado e sou contra a forma como nos querem convencer que “a salvação” de Mortágua passa pela Auto-Estrada. Temos no nosso concelho uma via de comunicação bem mais importante do que qualquer Auto-Estrada à qual ninguém parece prestar atenção. A Linha da Beira Alta liga Mortágua directamente a toda a Península Ibéria e, numa escala maior, a todo o continente Euro-Asiático. Ainda assim opta-se por expandir a Zona Industrial de Mortágua voltando as costas a esta via.
Só sem portagens a obra anunciada será uma real mais-valia para Mortágua.
Não às Portagens!!!
Anti-Fascismo
Lutas
Blogs Camaradas
PCP